Não tenho
nenhuma receita, nenhum facilitador para se entender a vida: ela é confusão
mesmo.
A
gente avança no escuro, teimosamente, porque recuar não dá. Nesse labirinto a
gente encontra o fio de um afeto, pontos de criatividade, explosões de
pensamento ou ação que nos iluminem, por um momento que seja.
Coisas que nos justifiquem enquanto seres humanos.
Tenho
talvez a ingenuidade de acreditar que tudo faz algum sentido, e que nós
precisamos descobrir – ou inventá-lo. Qualquer pessoa pode construir a
sua “filosofia de vida”. Qualquer pessoa pode acumular vida
interior. Sem nenhuma conotação religiosa, mas ética: o que valho,
e os outros, o que valem para mim? O que estou fazendo com a minha
vida, o que pretendo com ela?
Essa
capacidade de refletir, ou de simplesmente aquietar-se para sentir, faz
de nós algo além de cabides de roupas ou de idéias alheias. Sempre foi
duro vencer o espírito de rebanho, mas esse conflito se tornou
esquizofrênico: de um lado precisamos ser como todo mundo, é importante
adequar-se, ter seu grupo, pertencer; de outro lado é necessário
preservar uma identidade e até impor-se, às vezes transgredir, para
sobreviver.
Discernir
e escolher fica mais difícil, porque o excesso de informações nos
atordoa, a troca de mitos nos esvazia, a variedade de solicitações nos
exaure. Para ter algum controle de nossa vida é necessário
descobrir quem somos ou queremos ser – à revelia dos modelos
generalizantes.
Dura
empreitada, num momento em que tudo parece colaborar para que se aceitem
modelos prontos para servir. Pensamento independente passou a ser
excentricidade, quando não agressão. Família, escola e sociedade
deviam desenvolver o distanciamento crítico e a capacidade de
avaliar – e questionar – para poder escolher.
Mas,
embora a gente se pense tão moderno, não é o que acontece. Alunos (e
filhos) questionadores podem ser um embaraço. Preferimos nos tornar
membros da vasta confraria da mediocridade, que cultua o mais
fácil, o mais divertido, o que todo mundo pensa ou faz, e abafa
qualquer inquietação.
Por sorte nossa, aqui e ali aquele olho da angústia
mais saudável entreabre sua pesada pálpebra e nos encara irônico:
como estamos vivendo a nossa vida esse breve sopro... e o que realmente
pensamos de tudo isso – se por acaso pensamos?